
Ao receber a professora e linguista Carol Jesper, autora de Não Foi Isso Que Eu Quis Dizer, levei o pessimismo ao extremo: perguntei se ainda faz sentido aprender a escrever num mundo em que a inteligência artificial costura parágrafos impecáveis, revisa sintaxe e devolve tudo com pontuação de manual. Ela ouviu, achou graça e devolveu a provocação lembrando que a escrita também é tecnologia – só que uma tecnologia que modela o pensamento.
A conversa nos levou a outra evidência incômoda: diplomas não significam letramento. Dados do Núcleo Brasileiro de Estágios mostram desempenho baixo em provas de leitura justamente entre universitários de Letras e Direito – ironia crua num país em que o canudo costuma inflar egos e sufocar dúvidas. O resultado é conhecido: muita gente com título nas costas e convicções absolutas na mão, fazendo eco a manchetes mal lidas e teorias que não resistem a três perguntas simples.
