
O aviso sumiu tão rápido quanto apareceu, mas a pergunta ficou no ar: como uma empresa privada tem o poder de, literalmente, chacoalhar milhões de pessoas? O erro veio do Sistema Android de Alertas de Terremoto, que usa acelerômetros de celulares para detectar vibrações e identificar possíveis abalos sísmicos. Quando vários dispositivos percebem movimentações semelhantes, o sistema cruza os dados e, se achar necessário, dispara um alerta. O problema? Dessa vez, o algoritmo se enganou. Não havia terremoto. Só um erro de leitura—e um susto coletivo. Se isso fosse um caso isolado, poderíamos chamar de falha técnica. Mas o Google não é um novato em errar com consequências massivas. Em 2009, um bug fez com que a busca classificasse todos os sites do mundo como perigosos. Em 2013, uma queda de cinco minutos nos servidores da empresa derrubou 40% do tráfego global da internet. Em 2018, mudanças no algoritmo de busca apagaram empresas inteiras do mapa digital. Mais recentemente, em dezembro de 2024, o Google exibiu incorretamente a cotação do dólar a R$ 6,38 durante o feriado de Natal, quando o valor correto era R$ 6,15. A empresa fornecedora dos dados, Morningstar, admitiu o erro e o Google suspendeu temporariamente a ferramenta de cotação.
O economista Yanis Varoufakis chama isso de tecnofeudalismo: um sistema em que grandes plataformas digitais assumem o papel dos antigos senhores feudais, enquanto nós, usuários, somos os servos. Fornecemos dados, confiamos nossas rotinas e até nossa segurança a essas empresas. Mas, quando algo dá errado, não temos a quem recorrer. O Google pede desculpas, promete investigar, e seguimos em frente—até a próxima falha.
